Acidente mata comerciante e expõe a fragilidade do SAMU em Irecê

As estradas que ligam Irecê à comunidade Baixão de Zé Preto, assim como os caminhos estreitos da roça, trilhas da casa-mãe, aos ninhos dos ovos de galinha caipira, as brincadeiras que aconteciam debaixo da quixabeira onde sua família fincou morada a 38 anos, perderam o ar da graça que se revelava no sorriso de Jânio, como era conhecido Janailson Alves Miguel, vítima fatal de um acidente, na madrugada de sexta-feira (12), para sábado.

Filho de Abraão e Marlene Alves Miguel, Jânio era o penúltimo de um total de treze irmãos e estava casado com Elieide Silva, com quem gerou dois filhos: Kairon Rian da Silva Alves Miguel (12) e Yan Kalil da Silva Alves Miguel (4). Ainda adolescente, foi trabalhar com "João da Chama Azul", onde aprendeu o ofício de manutenção em fogão e panelas. Algum tempo depois foi trabalhar na Fogaréu. No início deste ano, ele abriu o seu próprio empreendimento, no ramo de assistência técnica em eletrodomésticos residenciais, comerciais e industriais, a Fogão&Cia. Jânio completaria 35 anos na próxima semana, dia 23.

O ACIDENTE - Ele, juntamente com outros parentes, foram na noite de sexta-feira para a residência da sua irmã Claudijane Alves Miguel, no condomínio Brisa Residence, para de lá, irem ao velório do tio "Agamenon". Por volta das 3h20 da manhã, resolveram ir ao velório. Dividiram-se em três veículos, Kairon Hian foi no Fiat Fiorino, com o cuncunhado Orlando, Janio seguiu na moto Bizz, e seu irmão Jailson Miguel com a esposa Jacqueline Silva, noutra moto, logo atrás.

Num dos redutores de velocidade no fundo do Clube da AABB, na Av. Primeiro de Janeiro, embora todos estivessem em baixa velocidade, (segundo disse a sua cunhada Jacqueline, "com menos de 40km/h") ao sentir que não frearia em tempo de evitar a colisão no fundo da Fiorino, Jânio tentou desviar, mas, aparentemente, o guidão da Bizz chocou-se na sinaleira do carro, perdendo o controle e Janio caiu no meio da pista, batendo com a cabeça. O capacete não foi suficiente para evitar o óbito.

ANGÚSTIA PELO SOCORRO - À exceção da sinaleira quebrada, o carro e moto não sofreram nenhuma avaria, mas Janio, mesmo com o capacete, sofreu "traumatismo craniano encefálico", segundo relatório do Instituto Médico Legal.

De acordo com Jacqueline, por diversas vezes ligaram para a UPA, que fica a cerca de mil metros do local do acidente. Demoraram a atender e quando obteve alguma resposta, disseram que não podiam fazer nada pois estavam sem a maca. "Foi quase uma hora de desespero, de espera, sem que tivéssemos nenhum resultado. Uma pessoa que nos atendeu, começou a nos orientar o procedimento, testar o pulso que ainda dava sinais de vida, deu dicas de como pegá-lo para colocar em um veículo e lavá-lo para o Hospital Regional, onde chegou sem vida. Aparentemente estaria ele apenas desacordado, pois não sofrera um arranhão sequer" disse a cunhada, afirmando que o transporte até o pronto socorro, deu-se em um carro comum.

Antes disso, porém, Orlando foi até à UPA/SAMU, onde constatou a presença de três ambulâncias da SAMU, mas que ninguém atendeu aos gritos desesperados.

No Hospital Regional, uma irmã de Jânio pediu agilidade na conclusão do atendimento, e uma recepcionista debochou, dizendo que ela estava muito apressadinha.

O CORTEJO - Durante todo o dia e noite de sábado, centenas de pessoas visitaram a casa dos pais de Janio, na comunidade de Baixão de Zé Preto, onde o corpo foi velado. Pela manhã de domingo, por volta das 11h, um cortejo formado por uma motocada e uma carreata, conduziu o seu corpo até a igrejinha da Boa Vista, onde foi celebrada uma missa de corpo presente, pelo padre Edivaldo.

Membro de um grupo de pesca esportiva, ele gostava de modas de viola, sertanejas de raiz, e a música Chalana, de Almir Sater, é uma das que marcaram o grupo, sendo tocada por diversos momentos do velório e do cortejo.

No ato sepúlcro, o sobrinho Joan Felipe fez uma fala em memória de Janio, representando toda a família e amigos, momento comovente, em que todos se sentiram tocados pela mensagem da eterna despedida.

E segue a canção..

" La vai uma chalana
Bem longe se vai
Navegando no remanso
Do rio Paraguai
Ah! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas
Vai levando meu amor
Ah! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas
Vai levando meu amor
E assim ela se foi
Nem de mim se despediu
A chalana vai sumindo
Na curva lá do rio
E se ela vai magoada
Eu bem sei que tem razão
Fui ingrato
Eu feri o seu pobre coração
Ah! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas
Vai levando meu amor
Ah! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas"

Fonte: Cultura&Realidade

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