DESCOBRIMENTO DE SALOBRO NO MUNICIPIO DE CANARANA BAHIA













Morro do Chapéu por volta do ano de 1916 era um Município que ocupava uma vastíssima extensão territorial abrangendo toda microrregião de Irecê.Que na época chamava-se Caraíbas, atingindo os limites de Gentio do Ouro. Toda essa área era composta de pequenas vilas e povoados esquecidos pelos poderes públicos. Praticava-se agricultura rudimentar, pois o trato da terra era feito braçal mente a cabo de enxadete, vez que não existia arados de aiveca (de tração animal), nem tratores. criavam-se aves e animais, mas para o consumo próprio. Quando a criação aumentava, vendia-se o excesso. Apenas um ou outro fazendeiro de melhores posses é que se dava ao luxo de comprar e revender gados bovino e caprino, além de suínos. A caça era abundante, e na época de entre safra os caçadores passavam dias acampados nas matas virgens, que cobriam toda a região. A locomoção entre um povoado e outro era feita através de picadas abertas nos matos, para a passagem de tropeiros e mascates que carregavam suas mercadorias em lombos de burros a fim de comercializá-las de casa em casa. O período chuvoso ou inverno acontecia somente uma vez por ano, como hoje. colhida à safra, guardando-se uma parte para enfrentar a estiagem e vendia o restante, o sertanejo ficava desocupado na maior parte do tempo. À medida que os mantimentos iam escasseando, a alternativa era adentrar no mato para caçar e colher mel silvestre.
Foi assim que em meados do ano em questão, alguns moradores de Mulungu e Descoberto, depois de percorrerem muitos quilômetros numa dessas caçadas, avistaram um local dominado por uma vasta extensão de lajedo onde um veio d'água proveniente de uma minação, corria por entre as pedras. As extensas matas da região provocavam altos índices de pluviosidade, surgido minações e cacimbas naturais que suprir de água a população das redondezas. Esses caçadores, ao provarem da água, descobriram um alto grau de salinidade provocada pelo calcário do subsolo o que a tornava quase impotável. Mas a vegetação local era rica e variada o que denotava uma terra fértil, ótima para a agricultura e, assim, aqueles homens decidiram ali fixar moradia. O local, porém, ficou conhecido por sua água salobra e de tanto se falar nela, o povo acabou batizando-o com o nome de Salobro.

O POVOAMENTO

Em 1931, após a descoberta da água nos lajedos, Salobro já se povoara com alguns moradores fixos, a exemplo de “seu “ Ramiro, criador de gado e agricultor, pai de Izídio Souza Santos e que levara sua família para residir no Alto do Zacarias. A família Martins de Souza, fixara residência onde atualmente se localiza as cacimbas. Também para ali veio Gil, Miguel e outros irmãos acompanhados da mãe, dona Teodora. Construíram uma casa da taipa (enchimento) e abriram uma cacimba que deu abundante vazão de água. Esse feito animou outras pessoas, começando de fato o povoamento de Salobro. Naquela época as famílias tinham o costume de mudarem-se inteiras, recusando-se a migrares separadamente, o que contribuía para manter a tradição e composição dos descendentes naturais. Juntaram-se então às famílias que vieram para Salobro, os Martins dos Anjos, vindos do povoado de Barro Alto e que era constituída basicamente de homens em sua maioria como Totonho, Martins, Nezinho, outro irmão por nome Martins e Moisés. Abriram uma cacimba para consumo próprio e progrediram como agricultores e comerciantes.

CATÃO DOURADO VEM PARA SALOBRO

Vindo de Bonita, um ramo da família Dourado, descendentes de Rogério da Silva Dourado, natural de Macaúbas e Antonia Cardoso Dourado, natural de Caraíbas (atual Irecê), ali decidiram também fixar residência. Vieram primeiramente Catão Dourado, Rogério, Benjamim e José. Logo em seguida, vieram os filhos de Chico Carneiro: Júlio, João e Catão Carneiro, (primo de Catão Dourado).Nascido a 11 de setembro de 1892 em Canabrava do Miranda (atual Canarana), Catão Dourado era o filho mais velho de Rogério e desde aquela idade já revelava seus dotes para a liderança e uma vontade incomum de trabalhar e progredir. Ainda na adolescência, seus traços mais fortes de caráter desabrocharam, destacando-se um espírito pioneiro e uma preocupação comovente em ajudar a comunidade. Ainda jovem casou-se com Maria Amélia Carneiro Dourado, filha de Chico Carneiro e assim que se instalou em Salobro, comprou de Gil, uma vasta área de terra que abrangia desde a Praça das Cacimbas, contornava a Rua Cirino Neto e terminava na Praça do Comércio. Catão, graças a sua grande disposição para o trabalho e sua visão administrativa, era um homem bem sucedido para os padrões da época. Numa prévia do que realizaria no futuro, foi quem construiu em 1931, a primeira casa de adobe no povoado que estava se formando. Confiando no crescimento de Salobro e desejoso de impulsionar o seu progresso, Catão decidiu doar a Prefeitura de Morro do Chapéu, uma grande parte da área que havia comprado, para a construção da área central do povoado. E assim surgiram a Praça do Comércio, a da Feira das Frutas (atual Manoel Martins), do Banco do Brasil e do Correio (atual Mons. José Soares França). Os lotes ao redor dessas praças, foram demarcados e os pretendentes fizeram seus requerimentos junto à prefeitura, pagando pelos mesmos, 35 contos de réis. Catão ainda ajudou aquele executivo na venda das posses remanescentes.

A QUESTÃO DAS TERRAS

A maioria das terras da região eram devolutas. Ficava de posse das mesmas, quem cercasse sua área e trabalhasse nelas. Às vezes acontecia de uma determinada posse Ter mais de um pretendente o que gerava conflitos intermináveis. O emergente povoado de Salobro poderia se tornar uma praça de guerra provocada pelos choques das demarcações. Catão, como líder natural da localidade, foi chamado para decidir a questão. Reunindo os chefes das famílias, Catão acertou com os mesmos os limites de cada propriedade que ficou assim estabelecido: ao Sul, da Lagoa Vermelha até a Lagoa do Peixe, partindo da Quixabeira até à Queimada de Zé Grosso, as terras ficaram sob posse dos Souza Santos; ao Norte ficou demarcado desde a Quixabeira até as terras de Messias de Quinca Menino, para os Martins dos Anjos; do terreno de Messias até a Rua do Coqueiro ficou sob o domínio de Elias Caboclo e o seu irmão José dos Santos. Mais tarde esta área seria comprada por Catão Carneiro e seu irmão João Carneiro, prosseguindo na divisão da Rua do Coqueiro, até a Ladeira Vermelha, ficou para a família de Zé Pedro Calango. A Queimada de Zé Grosso ficou pertencente a família Carneiro e da Queimada de Zé Grosso até à Lagoa do Peixe os Dourado ficaram com a posse.
Desse modo, Salobro passou efetivamente a existir como povoado, com seus limites estabelecidos, sua área central definida e com todos os proprietários de posse de sues documentos, denominados “Formal de Partilha”.

A FEIRA DE GAMELEIRA

Em 1933, Salobro já era um povoado emergente. Naquela época, entretanto, a única alternativa de comércio residia nas feiras semanais. E a feira mais próxima localizava-se no povoado de Molengo, distante extensos 18 quilômetros que precisavam ser vencidos em lombos de animais. A escassez de alimentos aliados às dificuldades de transporte encareciam os produtos que, alem de chegarem deteriorado ao consumidor eram comercializados a preços incompatíveis com o padrão aquisitivo da população.
Em Gameleira, povoado próximo de Salobro, residia Carolino Gomes, o líder local que aflito com a questão, entrou em entendimento com Catão Dourado para se criar uma feira na localidade, facilitando a vida de todos. Imediatamente Catão providenciou junto a Luiz Riela, chefe da Coletoria Estadual em Caraíbas (Irecê), a oficialização da feira que nos seus primórdios contou com a inestimável ajuda do coletor chefe que facilitou a compra e venda dos produtos.


A ÁGUA ESCASSEIA

Com o crescimento acelerado de Salobro, em 1948 as cacimbas que abasteciam de água o povoado começaram a não dar vazão suficiente para o consumo , pois também as fazendas Pau D’Arco, Baixa de Chico Ferreira, Formosa, Morrinho, Baraúna, e Queimada do Gil se utilizavam delas. Catão tomou esse encargo para si, como era de seu feitio, e fazendo gestões junto à Prefeitura de Morro do Chapéu, conseguiu a liberação de uma verba de 2 mil contos de réis para a perfuração de um poço com 20 palmos de profundidade. Ele contratou Pedro Machado, um garimpeiro que possuía experiência e ferramentas adequadas que fez a obra normalizando o abastecimento de água em Salobro.

Escrito por: Antonio Carneiro (AKarmeiro)

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1 Comentários

  1. Bela iniciativa. Um texto completo, objetivo e didático, na medida em que nos oferece um panorama da formação do Distrito de Salobro. Creio já ter ouvido algo sobre o autor, como também tenho prestado atenção às iniciativas de Messias, uma pessoa criativa e consciente de seu papel de formador de opiniões - papel que deve obrigatoriamente ser o nosso, enquanto sujeitos da própria história. Parabéns.

    Milton de Oliveira Cardoso Júnior

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